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MENSAGEM PRESIDENCIAL.

No dia 6 do corrente mez o Presidente dos Estados Unidos enviou ao Congresso sua mensagem annual, da qual extrahimos os seguintes topicos:

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Esta nação, como todas as nações esclarecidas, deve esforçar-se constantemente no sentido de fazer approximar cada vez mais o dia quando prevalecerá em todo o mundo a paz da justiça. Ha especies da paz que não são para desejar, que no fim são tão destructivas como a guerra. Muitas vezes os tyrannos e os oppressores têm feito um deserto e o denominado a paz. Muitas vezes povos que eram preguiçosos, timidos ou com vistas curtas, que tinham sido enervados por uma vida de descanço ou de luxo, ou guiados por doutrinas falsas, têm recuado de modo ignobil deante de deveres difliceis e que exigiam sacrificios, e têm procurado disfarçar suas faltas, seus motivos ignobis, chamando-os amor á paz. A paz do terror tyrannico, a paz da fraqueza cobarde, a paz da injustiça, todas essas devem ser evitadas como evitamos a guerra injusta.

A meta desta nação, a meta de todos os povos, deve ser a consecução da paz de justiça, da paz que resulta quando cada nação não só salvaguarda seus proprios direitos, mas reconhece seus deveres para com as outras e os cumpre escrupulosamente. Em geral a paz significa justiça; mas si ha conflicto entre estas, então nossa lealdade deve-se primeiro á causa da justiça. Guerras injustas são frequentes e a paz injusta é rara, mas ambas devem ser evitadas. O direito de liberdade não pode ser divorciado da responsabilidade de exercer aquelle direito. Um dos nossos illustres poetas disse com acerto que a liberdade não é um dom que demora muito tempo nas mãos de cobardes. Nem tão pouco demora nas mãos daquelles que são preguiçosos demais, deshonestos demais ou ignorantes demais para exercel-a. A vigilancia eterna que é o preço da liberdade deve ser exercida, ás vezes para guardar-se de inimigos exteriores, mas muito mais frequentemente para guardar-se dos nossos proprios defeitos.

Si nos não perdemos de vista essas verdades evidentes por si mesmas, e sómente si não as perdemos de vista, teremos uma idea clara do que deve ser nossa politica exterior em seus aspectos mais largos. É dever nosso lembrar que uma nação não tem direito de fazer injustiça a uma outra nação, como um individuo não o tem para fazer injustiça a um outro individuo; que a mesma lei moral é applicavel n'um caso como n'outro. Mas devemos tambem recordar que guardar seus proprios direitos e interesses é tanto o dever da nação, como é o dever do

individuo. Na nação o individuo tem delegado este direito ao Estado, isto é, ao representante de todos os individuos, e é uma maxima do direito que para cada offensa ha um remedio. Mas em direito internacional não temos progredido tanto como temos progredido em direito municipal. Não ha ainda um modo judicial de obter um direito em direito internacional. Quando uma nação faz injustiça a outra nação ou a muitas outras, não existe tribunal em que a nação offendedora pode ser julgada. É necessario ou que a nação offendida acquiesça com indifferença na injustiça, assim pondo um premio sobre a brutalidade e a aggressão, ou que lucte valentemente por seus direitos. Até que se ache algum meio para conseguir a supervisão internacional das nações offendedoras, seria um crime si as potencias as mais civilizadas, as com a maior sentimento de obrigações internacionaes e com a mais nitida percepção da differença entre a justiça e a injustiça, se desarmassem.

Si as grandes nações civilizadas se desarmassem completamente, haveria como resultado uma recrudescencia immediata de barbarismo em uma ou outra forma. Em quaesquer circumstancias, uma força naval sufficiente teria de ser mantida para servir os fins de policia internacional; e até que a cohesão internacional e o sentimento de deveres e direitos internacionaes tornem-se mais geraes do que na actualidade, uma nação desejosa de obter respeito por si mesma e de fazer bem a outras nações deve ter uma força adequada aos trabalhos que lhe cabe como sua porção no trabalho da regeneração do mundo. Portanto, uma nação que tem respeito de si mesma, que é justa e previdente, deve por um lado procurar por todos os meios dar seu apoio aos varios movimentos que tendem a prover substitutos de guerra, que tendem a fazer com que as nações em suas acções entre si, e para com seus proprios povos, respondam mais ao sentimento geral da humanidade civilizada; e por outro lado, deve ser preparada para repellir uma injustiça, e em casos excepcionaes, para exercer as vezes de policia internacional. Um povo grande e livre deve a si mesmo e a toda humanidade, não deixar-se cahir em estado de fraqueza perante os poderes do mal.

TRATADOS DE ARBITRAMENTO.

Estamos procurando por todos os meios ajudar, com boa vontade, todo movimento que tenha por fim estreitar mais nossas relações de amizade com o resto do mundo. De conformidade com este pensamento, apresentarei em breve ao Senado para sua approvação tratados de arbitramento com todas aquellas nações que desejam concluil-os comnosco. No actual estado de progresso do mundo não é possivel resolver por meio da arbitragem todas as difficuldades que possam surgir entre esta e outras nações, mas ha grande numero de assumptos que podem ser resolvidos por este meio.

A SEGUNDA CONFERENCIA DA HAYA.

Ao requerimento da União Interparliamentaria, um corpo eminente composto de homens de estado praticos de todos os paizes, convoquei as nações para reunirem-se em uma Segunda Conferencia da Haya, em que se espera que se complete a obra tão felizmente iniciada na Primeira Conferencia da Haya. Por este convite se realiza o desejo expressado pela Primeira Conferencia da Haya.

POLITICA PARA COM AS OUTRAS NAÇÕES DO HEMISPHERIO OCCIDENTAL. Não é verdade que os Estados Unidos sentem fome de terras ou nutrem outros projectos, no que diz respeito ás outras nações do Hemispherio Occidental, que não sejam para seu bem-estar. Tudo que este paiz deseja é ver os vizinhos paizes estaveis, ordeiros e prosperos. Qualquer paiz cujo povo porta-se bem pode contar com nossa sincera amizade. Si uma nação mostra que sabe conduzir-se com efficacia e decencia em assumptos sociaes e politicos, si mantem a ordem e satisfaz suas obrigações, não deve temer a intervenção dos Estados Unidos. O fazer mal, quando é chronico, ou a impotencia que dá em resultado o afrouxamento geral dos laços da sociedade civilizada, pode exigir a intervenção de alguma nação civilizada, em America ou em outra parte; e neste hemipherios, o sustentar da doutrina de Monroe, pode forçar os Estados Unidos, muito contra sua vontade, a exercer as vezes de policia internacional, em casos de fazer-se o mal ou de impotencia para remedial-o. Si todos aquelles paizes que banha o Mar Caribbeo mostrassem os progressos em governo estavel e em verdadeira civilização que, com ajuda da emenda Platt, tem demonstrado Cuba desde a retirada de nossas tropas, e que estão demonstrando tantas outras Republicas de ambas Americas, toda questão de que nosso paiz interviesse em seus assumptos ficaria eliminada.

Nossos interesses e os dos nossos vizinhos do sul são em realidade identicos. Elles têm grandes recursos naturaes e si dentro de seus limites reinam a lei e a justiça, a prosperidade ha de resultar. Emquanto obedecem assim as leis fundamentaes da sociedade civilizada, podem estar certos de que serão por nos tratados em um espirito de cordial sympathia. Nos interviriamos em seus negocios sómente como o ultimo recurso e depois que ficasse provado que por sua incapacidade e falta de vontade de fazer justiça dentro e fora do paiz, tinham violado os direitos dos Estados Unidos e dado lugar á aggressão estrangeira com prejuizo de todas as nações da America. É uma verdade dizer que toda nação, quer em America, quer em outra parte, que deseja manter sua liberdade, sua independencia, deve conhecer finalmente que o direito a esta independencia não pode ser separado da responsabilidade de fazer bom uso della.

Bull. No. 3-04- -21

RELAÇÕES COMMERCIAES COM O MEXICO.

Á vista da noticia de que o Mexico propõe-se reorganizar seu systema monetario, é de interesse especial uma estatistica que acaba de ser organizada pela Repartição de Estatistica do Departamento do Commercio e do Trabalho relativa ao commercio entre os Estados Unidos e o Mexico. Essa estatistica mostra que as exportações dos Estados Unidos para o Mexico cresceram de $13,000,000 em 1890 a $46,000,000 em 1904, em algarismos redondos; e que as importações dos Estados Unidos provenientes do Mexico subiram de $23,000,000 em 1890 a $44,000,000 em 1904. Assim nossas exportações para o Mexico em 1904 foram tres e meia vezes maiores do que as de 1890, ao passo que as nossas importações provenientes do Mexico são virtualmente duas vezes mais grandes do que naquelle anno.

Um facto ainda mais interessante encontra-se numa comparação das cifras do commercio do Mexico com os Estados Unidos com o commercio total do Mexico. Essas cifras demonstram que das importações totaes do Mexico no anno mais recente de que ha estatisticas, 59 por cento dellas foram fornecidas pelos Estados Unidos, e das exportações de Mexico 76 por cento foram enviadas para os Estados Unidos. O Mexico recebe dos Estados Unidos uma parte maior de suas importações totaes que qualquer outro paiz no mundo excepto Canadá, que recebe 60 por cento de suas importações totaes dos Estados Unidos. Tambem o Mexico envia para os Estados Unidos uma parte maior de suas exportações totaes que qualquer outro paiz do mundo excepto Cuba, de cujas exportações para o exercicio de 1904, 80.6 por cento foram enviadas para os Estados Unidos, contra 76 por cento das expor tações totaes do Mexico que foram enviadas para este paiz.

Não se pode dispor de estatisticas de annos anteriores mostrando a porcentagem das importações do Mexico supprida pelos Estados Unidos e a porcentagem de suas exportações enviada para os Estados Unidos, mas é bem sabido que os Estados Unidos tem augmentado rapidamente a porcentagem que contribue para as importações do Mexico e a porcentagem que recebe das exportações do Mexico. Esse augmento tem sido especialmente notavel desde que foram construidas as vias ferreas ligando Mexico aos Estados Unidos. Anteriormente á construcção das estradas de ferro entre os Estados Unidos e o Mexico a porcentagem das importações de Mexico supprida pelos Estados Unidos foi de 20 até 30 por cento, comparada com 59 por cento na actualidade, ao passo que a porcentagem das exportações de Mexico enviada para os Estados Unidos foi na mesma proporção. O effeito do estabelecimento de communicações directas por via-ferrea entre os Estados Unidos e o Mexico é illustrado tambem pelo facto que os Estados da America Central, com os quaes só ha communicação por mar, como era o caso com o Mexico anteriormente á construcção

de vias ferreas pondo os dous paizes em communicação, agora recebem dos Estados Unidos 43 por cento de suas importações totaes, contra 59 por cento que representa a porcentagem de suas importações que o Mexico recebe deste paiz.

Estatisticas do commercio entre os Estados Unidos e o Mexico em annos anteriores são de certo disponiveis, mas são um pouco enganadores pois anteriormente ao anno de 1892 não havia lei exigindo relações de mercadorias sahindo dos Estados Unidos por via ferrea com destino ao Mexico.

As principacs classes de mercadorias que constituem nossas exportacões para o Mexico são manufacturas de ferro e de aço, madeiras e manufacturas de madeira, carros e carruagens, cereaes; productos chimicos, drogas e substancias de tinturaria; cobre e suas manufacturas, oleos mineraes, provisões e couros e suas manufacturas.

Os principaes artigos importados nos Estados Unidos provenientes de Mexico são fibras (principalmente hennequen), cobre em barras e linguados, minerio de chumbo e chumbo em linguados; couros e pelles, café e gado.

RIQUEZA AGRICOLA EM 1904.

O relatorio annual do Secretario da Agricultura dos Estados Unidos. para o anno de 1904 enumera os mais importantes trabalhos realizados durante o anno, que são os seguintes: cooperação em larga escala com as estações de agricultura; iniciação dos passos preliminares afim de fazer experiencias acerca de criação e alimentação de gado; a guerra feita ao caruncho das maças do algodoeiro e á sarna do gado; planos para a formatura de engenheiros aptos a dirigirem a construcção de estradas de rodagem; creação de uma nova laranja, resistente, producto da laranjeira de Florida e a do Japão; estudo valioso da industria da exportação de fructas para o exterior; introducção com exito de plantas adaptadas a areas onde cai pequena quantidade de chuva; estabelecimento de alimentos puros; a extensão do ensino agricola nas escolas primarias e secundarias; a extensão de instrucção a nossas possessões afim de habilital-as a supprir os $200,000,000 de mercadorias que agora importam de paizes estrangeiros.

O relatorio salienta o lugar importante que a agricultura occupa na vida industrial do paiz. A colheita de milho de 1904 foi maior que a de qualquer anno anterior. Com o producto de só esta colheita os fazendeiros poderiam pagar a divida nacional e os seus juros por um anno, e ainda têm sufficiente para pagar uma porção consideravel das despezas annuaes do Governo. A colheita de algodão, no valor total de $600,000,000, vem em segundo lugar, ao passo que as colheitas de feno e de trigo competem para o terceiro lugar. O valor dessas duas colheitas combinadas será quasi egual ao da colheita do milho.

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